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Dale Ahlquist, Alessandra Lass e Paul Haverstock

Chesterton Brasil entrevista Dale Ahlquist, presidente da American Chesterton Society

Por Alessandra Lass

Colaboradora do site Chesterton Brasil

No dia 27 de setembro de 2011, Dale Ahlquist, presidente da American Chesterton Society, nos recebeu para um jantar e entrevista antes da reunião mensal da Society (que, naquela ocasião, seria sobre a saga Padre Brown). Autor de G.K. Chesterton, the Apostle of Common Sense Common Sense 101: Lessons from G.K. Chesterton, Ahlquist é editor daGilbert Magazine, dá palestras em várias partes do mundo, apresenta um programa na emissora católica EWTN e dedica-se integralmente a Society. De origem protestante (batista), Dale converteu-se ao catolicismo por influência de Chesterton. Nesta entrevista bem-humorada, ele nos conta um pouco mais sobre as atividades da Society e o mundo chestertoniano.
Dale Ahquist
Dale Ahlquist, Alessandra Lass e Paul Haverstock
Monthly meeting of the American Chesterton Society – University Club
Começamos há cerca de 15 anos, em 1996. Naquela época, havia um grupo que se reunia 1 vez por ano em uma cidade chamada Milwaukee, no estado de Wisconsin. No início, poucas pessoas frequentavam as reuniões, mas o número de participantes foi crescendo com o passar do tempo. Fui à reunião pela primeira vez em 1990; a maioria dos participantes era de idade avançada. Desse modo, percebemos que Chesterton deveria ser apresentado à nova geração, pois várias gerações deixaram de conhecê-lo. Eu e um amigo (que hoje não é mais membro do grupo, pois se mudou para longe) decidimos, então, criar uma sociedade nacional dedicada a reavivar o interesse em Chesterton e a encontrar pessoas que já se interessavam pelo assunto para incluí-las no grupo. Claro que naquela época não havia tantos interessados, mas iniciamos as atividades mesmo assim. E o nosso objetivo é, desde o início, gerar um novo interesse em Chesterton e mantê-lo vivo para as próximas gerações.
De que modo a American Chesterton Society contribui para manter as ideias chestertonianas vivas e relevantes para o mundo atual?
Nossa principal atividade é o website, que é muito ativo. A meta é produzir o maior número possível de material na página chesterton.org. Além disso, editamos uma revista, a Gilbert Magazine, com vários artigos de ou relacionados a Chesterton; apresento um programa de TV no canal católico EWTN, que levou Chesterton a muitos lugares onde era antes desconhecido, pois é transmitido internacionalmente. E tem sido fantástico ver Chesterton chegar a tantos lares; dou palestras nos Estados Unidos e em outras partes do mundo para divulgar o pensamento chestertoniano; por fim, nosso trabalho também consiste em ajudar as novas sociedades chestertonianas (tanto as locais quanto as internacionais) a dar os primeiros passos. Contamos com voluntários de diversas partes do país que trabalham conosco. Graças a Deus, o interesse das pessoas em Chesterton tem crescido muito e, consequentemente, cresce o número dos que nos ajudam a manter a Society atuante.
Neste ano, lembramos duas datas importantes: 75 anos do falecimento de Chesterton e 100 anos desde a publicação do primeiro livro da saga Padre Brown. Como a Society planeja divulgar estes fatos?
Tivemos nossa Conferência Anual em St. Louis, Missouri, em agosto, com duas palestras direcionadas ao Padre Brown. Além disso, a nossa proxima reunião mensal será exclusivamente sobre a saga.
Os 75 anos do falecimento nos faz pensar no fato de que há cada vez menos pessoas vivas que tiveram algum contato pessoal com Chesterton. Tive o grande privilégio de conhecer pessoas que o conheceram, mas este número tem caído a cada ano. Sei que ainda restam alguns, porém, neste momento, só consigo lembrar de uma pessoa que teve contato com Chesterton e ainda está entre nós: um senhor britânico que conheci há pouco e que sentou no colo de Chesterton quando era um bebê.
Vale lembrar que, além das datas já mencionadas, celebramos os 100 anos da publicação dos poemas Lepanto e The Ballad of the White Horse.
Existe um movimento iniciado pela Chesterton Society inglesa para promover a abertura do processo de beatificação de Chesterton. Em sua opinião, quais elementos da vida e obra de Chesterton admitiriam uma possível beatificação?
Em primeiro lugar, o fato de ele fumar charutos, que é uma forma de incenso sagrado. (risos)
Creio que outro elemento seria sua santidade ter sido demonstrada em todos os testemunhos relatados por aqueles que o conheceram. As pessoas que estavam próximas a Chesterton eram diretamente afetadas por sua bondade e por sua alegria. Seus pensamentos estavam sempre voltados a Deus. Um de seus amigos mais próximos, um jornalista chamado William R. Titterton, autor da primeira biografia de Chesterton, conta nessa obra que o resultado da amizade entre os dois foi a conversão de Titterton ao catolicismo. Ele escreveu: “Não sei quais são os critérios que a Igreja Católica utiliza para definir seus santos, mas penso que Chesterton deveria ser reconhecido com um deles. Ele estava sempre pensando em Deus.”
Por que, em sua opinião, Chesterton é geralmente mais conhecido por sua apologética, e não tanto por sua poesia, ficção, crítica literária e suas ilustrações?
Creio que ele se tornou mais popular em apologética pela ligação que tinha com C. S. Lewis, que foi um grande apologista cristão. Mas a lamentável razão por ele não ser tão reconhecido como uma figura literária (por seus poemas, ficção e criticismo literário), é que as Universidades simplesmente não cumpriram com o dever de dar a Chesterton reconhecimento como um dos maiores mestres da língua inglesa e um dos gigantes literários do século XX. Então, por causa da falha das Universidades em não creditar a Chesterton o que ele merece, as pessoas estão descobrindo os escritos chestertonianos por elas mesmas. Eu, por exemplo, descobri Chesterton sozinho, sem ajuda da universidade. Assim que comecei a ler suas obras, percebi que era um escritor importante e completo, e comecei a questionar por que não lhe é dado o devido crédito. Definitivamente, existe preconceito contra Chesterton nas universades, e acredito que isso ocorra por dois motivos:
– Pensam que, por ele ser cristão, tudo o que escreveu foi, de certa maneira, “infectado” pelo cristianismo. Desse modo, não conseguem apreciá-lo apenas pelo seu talento artístico.
– A universidade encara como problema o fato de Chesterton ser muito amplo em seus escritos. Ele escreveu sobre diversos assuntos e, para a Academia, não é suficientemente específico. Eles querem alguém que tenha se especializado apenas em um único assunto de um único departamento da Universidade: ou Inglês, ou Filosofia, etc.
O que nós, pessoas comuns, podemos fazer para ajudar a divulgar Chesterton e seus escritos?
Um bom caminho é incendiar todas as universidades existentes até ficarem em cinzas e, então, começa-las de novo.(risos)
Acredito que haja suficiente interesse popular em Chesterton. Por este motivo, as universidades um dia seguirão essa tendência de reconhecê-lo como um escritor que merece ser estudado. Além disso, as pessoas que estão escrevendo sobre Chesterton em suas dissertações e teses acabarão por chamar a atenção do meio acadêmico. A Introdução das obras chestertonianas nas universidades se dará pelos alunos, não pelos professores.
Dentre todos os escritos de Chesterton, qual é sua frase favorita?
Bem, eu tenho 6 filhos e essa pergunta, para mim, é como se colocasse em questão qual deles é meu favorito, ou seja, isso é muito injusto! Mas há uma frase em Hereges (pág. 155) que está sempre presente em minha vida de algum modo: “A caridade significa perdoar o imperdoável, ou, absolutamente, não é uma virtude. A esperança significa confiar quando não há mais o que esperar, ou não é virtude alguma. E a fé significa acreditar no inacreditável, ou não há de ser virtude.
Qual é a principal lição que podemos aprender com Chesterton?
Gratidão. Em seu livro sobre a história da Inglaterra, Chesterton diz que “a gratidão é a forma mais elevada de pensamento.”
Que mensagem você mandaria para os leitores e admiradores de Chesterton no Brasil?
O que mais me surpreende em Chesterton é o fato de ele ser um escritor universal. As verdades ditas por ele transcendem as barreiras da língua; ele fala a todas as pessoas, de todos os lugares, da verdade universal que influencia o modo com que olhamos para o mundo. Ele nos inspira alegria, estima, gratidão e dá alento a nossa imaginação. Ele nos estimula a servir o próximo, pois está sempre interessado no que é justo. Chesterton nos faz desejar ser pessoas melhores; e há poucos escritores capazes de causar tais efeitos. Você se sentirá bem ao ler Chesterton, mas, ao mesmo tempo, terá vontade de se tornar muito melhor.

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