Perguntas ao senhor Desembargador Ricardo Henry Marques Dip, membro do Tribunal de Justiça de São Paulo e Presidente da União Internacional de Juristas Católicos
- Caro senhor Ricardo Dip, muito obrigado pela sua disposição para esta entrevista. Em primeiro lugar, sabemos que o sr., bem como católico, é também um admirador de G. K. Chesterton. De onde vem seu interesse por Chesterton? Como foi seu contato inicial com o autor?
R. Sou eu quem deve agradecer a ocasião de contribuir em algo, por pequeno que seja, para o que, hoje, constitui, de algum modo, uma redescoberta de Chesterton. Foi, como se diz: in illo tempore, de uma referência ouvida em aula, na Faculdade de Jornalismo, a uma passagem célebre da Ortodoxia, a passagem em que Chesterton diz que o louco é quem perde tudo, menos a razão, foi dessa referência que me veio a vontade de aceder à leitura de Chesterton.
- O que mais lhe agrada no estilo de Chesterton?
R. Duas coisas, sobretudo, agradam-me na leitura de Chesterton: a fluidez de sua escrita (parece uma corrente de letras que segue um caminho natural) aliada às surpreendentes inferências que ele extrai de suas premissas.
- Não se trata de um autor “católico”, com interesse apenas para os católicos?
R. Chesterton não é um literato para católicos, mas um escritor para todos que almejem conhecer uma escrita esmerada e nutrida de ideias férteis, de ideias sensatas.
- Chesterton escreveu para os ingleses do século XX. Porém, seus escritos são tão proféticos que ainda tem valor na atualidade. O senhor é um incansável defensor da Vida e do Direito Natural. Seu colega da União Internacional de Juristas Católicos, o senhor Miguel Ayuso, também é grande admirador de Chesterton. Inclusive, escreveu um livro “Chesterton, Caballero Andante”, que está no forno da Editora Resistência Cultural. Chesterton pode ser visto como um pensador do Direito Natural?
R. Parece-me excessivo estimar que Chesterton tenha sido um pensador do direito natural. Mas, isto sim, ele foi alguém que bem apreendeu os temas da lei e do justo naturais, divulgando-os de modo admirável.
- Embora fosse famoso em sua época, Chesterton é muito pouco conhecido hoje. A que o senhor atribui este fenômeno, e como vê a recente tendência a redescobrir seus escritos, que vêm sendo republicados com sucesso nos últimos anos?
R. De maneira particular, a cultura ocidental passou e ainda passa por um período de trevas (agora, sim, parece possamos falar de uma Idade das trevas: a contemporânea e pós-moderna). A redescoberta de Chesterton é um dos modos de iluminar os caminhos permanentes em busca da Verdade.
- Com efeito, embora fosse bastante seguro e firme ao defender suas convicções, Chesterton tinha muitos amigos, inclusive entre seus adversários. De que forma isto poderia ser uma lição nesta época de tensões e “polarização política” que vivemos atualmente?
R. A unidade da natureza humana é sugestiva da fraternidade que deve reinar entre os homens, de sorte que um diálogo legítimo, para o encontro da e na Verdade, não só se justifica entre católicos e não católicos (incluídos os agnósticos e ateus), senão que se recomenda, contanto que se trate de uma sincera busca da Verdade.
- Em sua opinião, qual é o livro mais importante de Chesterton?
R. Sei só dizer de quais livros mais gosto: a Ortodoxia e os das aventuras do Padre Brown.
- Da mesma forma, qual o maior problema da cultura no Brasil? E quais caminhos possíveis para resolvermos?
R. O Brasil não é um oásis em meio da desconstrução cultural destes tempos. Humanamente, parece devamos restituir-nos a ideia dos fins do conhecimento, da ação, de toda nossa vida, apartando-nos das compulsivas claves ideológicas de turno.