Por Dale Ahlquist
Tradução: Vinicius Oliveira
Tradução do original What’s Wrong with the World [Lecture 16, disponível no site Chesterton.org

O livro de Chesterton, “O que há de errado com o mundo”, foi supostamente escrito em 1910. Mas há boas evidências de que, na verdade, foi escrito hoje.
Nossa sociedade está experimentando exatamente a crise sobre a qual Chesterton nos alertou um século atrás. Nunca houve tanta disparidade entre os ricos e os pobres. Nossas famílias estão desmoronando, nossas escolas são um completo caos, nossa liberdade básica está sob ataque. Isso afeta cada um de nós. Como diz Chesterton, “Não só estamos todos no mesmo barco, mas estamos todos mareados.”
Mas apesar de nós concordarmos sobre o mal, nós já não concordamos sobre o bem. A principal coisa que está errada com o mundo é que nós não perguntamos o que é certo. É a perda de ideais que faz a reforma ser uma tarefa tão difícil.
Algumas pessoas dizem que o idealismo não é prático. Mas Chesterton diz, “Idealismo é nada mais que considerar tudo em sua essência prática”. Em outras palavras, idealismo é senso comum. É aquilo que o homem comum sabe ser o certo, apesar de todas as vozes dizendo a ele que é impraticável ou irrealista ou fora de moda. E quando Chesterton diz “idealismo”, ele quer dizer o ideal cristão. “O ideal cristão não foi buscado e considerado deficiente; ele foi considerado difícil e permaneceu sem ser experimentado”. Significaria a casa ideal e a família feliz, a santa família da história. Significaria fazer leis que respeitam a família como a unidade mais importante da sociedade, e leis que são morais e respeitam os princípios religiosos. Significaria a tão difundida ideia de distribuição de propriedade e capital a fim de garantir maior justiça e liberdade. Significaria não ter medo de ensinar a verdade às nossas crianças. Mas nós deixamos a verdade para trás. E em vez de dar meia volta e voltar para consertar as coisas, nós corremos loucamente para frente rumo a algo que não sabemos o que é, e chamamos a nós mesmos, “progressistas”. Em vez da família sólida e a Igreja e a República tidas como ideais, essas coisas são agora assaltadas por aqueles que nunca as conheceram, ou por aqueles que falharam em levá-las adiante. “O homem inventa novos ideais porque tem medo de tentar ideais antigos. Eles olham para frente com entusiasmo, porque eles tem medo de olhar para trás”.
Mesmo que esse livro seja uma obra de não-ficção, Chesterton nos apresenta dois personagens: Hudge and Gudge. Bom, três personagens: ele também apresenta Jones. Hudge e Gudge são os inimigos de Jones. Resumindo, Hudge é o Grande Governo e Gudge o Grande Negócio. E Jones? Jones é o homem comum. “Esse homem, Jones, sempre desejou coisas ordinárias; ele se casou por amor, escolheu ou construiu uma pequena casa que lhe serviu como um casaco; ele está pronto para ser um grande avô e herói local”. Mas algo saiu errado. Hudge e Gudge têm conspirado contra Jones para tomar dele sua propriedade, sua independência, e sua dignidade.
O lar é o único lugar da liberdade. “Propriedade é meramente a arte da democracia. Significa que todo homem deveria possuir algo que possa moldar de acordo com sua própria imagem… Dar a quase todas as pessoas casas comuns deixaria quase todas as pessoas satisfeitas”. Mas em uma sociedade em que a maior parte das pessoas não pode ter o próprio lar, e não pode manter-se apropriadamente, mas precisa ser o escravo assalariado de outro, facilmente demitido, facilmente substituído e facilmente deslocado, precisando depender do governo para suprir sua necessidade, em outras palavras, quando elas estão completamente à mercê de Hudge e Gudge, significa que uma grande pressão é posta sobre a família, e significa que a sociedade irá desmoronar de baixo para cima. A sociedade está especialmente em perigo quando o homem comum, atordoado pela perda da religião, do lar, da família, já não sabe nem mesmo o que ele quer.
O homem sempre perdeu seu rumo. Ele tem sido um mendigo desde o Éden, mas ele sempre soube, ou pensou que sabia, o que estava procurando. Todo homem tem uma casa em algum lugar no elaborado cosmos; sua casa espera por ele… Mas na gelada e ofuscante chuva de ceticismo a qual ele foi exposto por tanto tempo, ele começou pela primeira vez a ser frio, não apenas em suas esperanças, mas em seus desejos. Pela primeira vez na história ele começa a realmente duvidar do objeto de suas caminhadas pela terra. Ele sempre perdeu seu rumo; mas agora perdeu seu endereço.
Uma das mais famosas frases em todos os escrito de Chesterton se encontra nesse livro: “Se vale a pena fazer uma coisa, vale a pena fazê-la, mesmo que mal feita”. Por alguma razão, as pessoas se confundem com isso. Ou usam para defender seus próprios meios desleixados. Mas é uma defesa sonora do amador, a pessoa que faz uma variedade de coisas por amor em vez de uma coisa especializada em nome do mero profissionalismo. A pessoa que melhor entende o “ruidoso amadorismo do universo” é a mulher, a mãe que precisa ser a primeira a explicar sobre todo o universo para o filho. Quando a mãe é puxada para fora de casa e feita uma especialista, trabalhando para Hudge e Gudge, a criança é deixada para ser criada por “experts”. Assim, tanto a mãe quanto a criança se tornam limitados. E com eles a sociedade como um todo, enquanto a família, é claro, é despedaçada. E assim cada elemento integrante da sociedade é despedaçado por todas as outras coisas. O mundo, diz Chesterton, “é uma selvagem corte de divórcio”. A religião é banida da sala de aula. E também os pais. E também o senso comum. Cada indivíduo é ensinado em um vácuo. Cada profissão é cada vez mais estreita. As pessoas sabem cada vez mais, sobre um campo cada vez mais restrito.
Um dos livros mais ” proféticos ” da História !
Lamento, apenas , tê- lo conhecido tão tarde.
Certamente minha vida teria tomado outro rumo.
Maravilhoso!! Remédio para os makes do homem moderno : a tradição e sabedoria cristã e um homem sábio como chesterton!!