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OS PERIGOS DO SOCIALISMO

G. K. Chesterton.
Tradução de Agnon Fabiano
Revisão de Raul Martins

“Tenho ouvido de quase todos os socialistas que conheço uma mesma frase. Uma frase, creio, com a qual todo o mundo haveria de concordar e que se repete com frequência na filosofia coletivista: “os meios de produção deveriam pertencer ao povo”.

Quando diz-se que os meios de produção deveriam pertencer ao povo, o que quer-se dizer? Esta é a questão fundamental.

O coletivismo colocou todos os seus ovos num único cesto. Não julgo que alguém realmente creia que duzentos milhões de homens, digamos, possam levar o cesto, ou vigiá-lo, ou ter qualquer controle real sobre os ovos que lhe colocaram. Creio que o cesto será controlado de forma centralizada por um punhado de pessoas. As tais podem ser um tanto corretas ou um tanto necessárias. Porém, qualquer um em são juízo reconhecerá que certos limites ser-lhe-ão necessários, e que tal controle não é a mesma coisa que o controle do povo sobre os meios de produção.

O que querem dizer não é que todo o povo deva controlar os meios de produção, mas, antes, que o produto deva ser distribuído entre a vasta massa do povo, e isso é totalmente diferente. De forma alguma significa controlar os meios de produção. Se a cada um dos cidadãos corresponde simplesmente uma parcela equitativa das rendas do Estado, então eles não têm controle algum sobre o capital.

Se colocássemos no centro do Estado uma máquina gigantesca, e lhe girássemos a manivela e alguém, forçosamente um funcionário dessa empresa e, portanto, um governante, repartisse, equitativamente, entre todos, o alimento ou o que quer que a máquina produzisse, sem que ninguém receba mais que qualquer outro, mas tão somente a parte que lhe cabe, estaríamos diante do ideal absoluto de igualdade. No entanto, ainda sim, nenhum desses cidadãos teria controle algum sobre os meios de produção.

Utilizei a metáfora dos coletivistas de ter todos os seus ovos numa só cesta. Pois bem, há homens aos quais chamamos, com prazer, ovos podres (nem todos estão na política) e, por outro lado, há homens que merecem o elogio de serem chamados de ovos bons. Falando de outra forma, existe uma determinado número de homens bons e um determinado número de homens maus no meio da comunidade. A fim de resumir a questão, poder-se-ia dizer que toda a teoria da distribuição mecânica igualitária depende de um determinado uso da voz passiva. É demasiado fácil falar que a propriedade deve ser distribuída, porém, quem é o agente do verbo? Quem deve distribuir? Parte-se da ideia que o poder central, que condescende com a distribuição, há de ser sempre justo, sábio, prudente e representante legítimo da consciência da comunidade. Nós, entretanto, colocamo-la em cheque. Afirmamos que deveria haver no mundo uma grande massa de poderes, privilégios, limites e pontos de resistência disseminados que permitiriam ao povo resistir à tirania. E afirmamos que, nesse controle central, por mais que possam tê-lo designado para ser um distribuidor da riqueza de maneira igualitária, há a possibilidade permanente da conversão numa tirania.

Não creio que seja difícil imaginar como isso poderia acontecer. No momento em que um grupo de pessoas começasse a comportar-se de alguma forma que o grupo governante julgasse anti-cívica, poder-se-ia negar-lhes, sem dificuldade e com a aprovação deste mesmo grupo governante, alimentos e suprimentos.

Eles propõem a distribuição das riquezas; eu proponho a distribuição do poder”.

Título dado pelo tradutor. Retirado do livro “Do we agree?”.

Levando em conta que o livro é um debate entre Chesterton e Bernard Shaw, para deixarmos o texto mais impessoal, já que as ideias de Chesterton são do âmbito de seu pensamento geral, substituímos o nome de Shaw por um pronome de terceira pessoa. Também, onde se faz referência à população inglesa da época, adaptamos para a população brasileira atual.

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