Por Dale Alhquist
Traduzido por Pedro Erik Carneiro
Texto originalmente publicado pela Crisis Magazine, traduzido para a Sociedade Chesterton Brasil com permissão do editor John M. Vella.
Onze anos atrás eu visitei a Inglaterra pela primeira vez. Eu estava em êxtase, obviamente, para conhecer o País, mas especialmente para conhecer os lugares que tinham conexão com meu herói, G.K. Chesterton. Minha primeira parada, entretanto, foi na improvável cidade de Northampton. Eu tinha agendado uma reunião com o Bispo Kevin Mcdonald. Meus anfitriões e também motoristas foram Aidan Mackey, que, embora ele não deseje ser conhecido como o grande velho protetor de todos os objetos de Chesterton, é precisamente isto que ele é, e Martin Thompson, que tem sido minha contraparte na Inglaterra, dirigindo a ativa Sociedade Chesterton de lá.
O propósito da reunião era discutir o status da causa de canonização de Chesterton. No entanto, eu descobri um pouco antes da reunião que não havia status algum. Isto foi uma surpresa para mim, porque eu sabia do interesse em todo o mundo pela canonização dele. A ironia foi que esta reunião seria considerada o “primeiro contato”, na qual formalmente pedimos que o bispo apontasse um clérigo para começar a investigação. Nós sentamos com o bispo McDonald em seu escritório cheio de livros, e ele disse: “Vocês desejam uma xícara de chá?”
Eu tinha acabado de sair do avião, na minha primeira vez na Inglaterra, e eu tinha um bispo me servindo chá. Eu exclamei: “Isto é demais”.
Não é à toa que os britânicos têm dificuldades em lidar com os americanos.
Mas o bispo de Northampton levou muito a sério o que eu tinha a dizer. Eu disse a ele que Chesterton não apenas foi a razão que me levou para a Igreja Católica, Chesterton também me fez compreender o que eu, como um ex-Batista, nunca tinha entendido: a Comunhão dos Santos. Eu não apenas estava convencido da santidade de Chesterton e de sua virtude heroica, Chesterton tinha me levado para próximo de Cristo e era um modelo cristão que eu e outros seguíamos com muita alegria. Chesterton tinha mudado nossas vidas não apenas pela sua sabedoria, mas pela sua bondade. O bispo McDonald me fez algumas perguntas básicas, a reunião foi muito positiva. Depois disso, ele se comunicou com os padres na sua diocese para começar a discutir Chesterton. As coisas pareciam promissoras, mas aí ele foi promovido a arcebispo de Southwark, e nós tivemos que começar tudo de novo. O novo bispo de Northampton era o reverendo Peter Doyle. Até o momento em que escrevo este texto, nós ainda não nos encontramos, mas nós trocamos algumas correspondências por oito anos. Nestas correspondências, ele expressou grande apreciação por meu trabalho, mas educadamente me informou que não havia culto local para Chesterton para que se iniciasse uma investigação de sua canonização. O profeta não recebe honras em seu próprio País. Mas eu sabia que muitos Chestertonianos ingleses eram muito devotados ao profeta risonho de Beaconsfield. Eu mantive uma pressão suave sobre o bispo, e eu tinha Martin Thompson para reunir as tropas locais para que a presença da devoção a Chesterton fosse reconhecida.
Então, em 2010, o Papa Bento XVI foi para a Inglaterra para a beatificação do cardeal John Henry Newman. O papa não apenas venceu a mídia hostil, mas sua visita, junto com a beatificação, despertou muita emoção verdadeira na Igreja Católica inglesa, ou pelo menos o nível de entusiasmo que os britânicos se permitem demonstrar. Eu aproveitei a oportunidade para escrever para o bispo Doyle que talvez agora tenha chegado a vez de Chesterton. Ele escreveu de volta, e o tom de sua resposta tinha claramente mudado. Ele também estava sentindo a excitação da beatificação de Newman. Ele indicou que estava realmente querendo fazer algo…mas nada aconteceu.
Um ano depois, Martin Thompson se encontrou com o bispo Doyle. Junto com Martin foi o pai dele, John Thompson, que era um diácono sênior na diocese. John é católico convertido, mais um cuja estrada para Roma foi pavimentada por G.K.Chesterton. Sendo um homem de idade, cuja fragilidade no corpo e na mente estava se instalando, John simplesmente disse para o bispo: “Nós precisamos da santidade de Chesterton”.
Martin disse que o bispo ficou muito comovido com as palavras de John. Mas apesar disso, ele ainda não reagiu. Nada aconteceu. Mais de um ano se passou e alguns meses atrás eles se encontraram de novo. Desta vez, Martin explicou que o interesse pela santidade por Chesterton não iria arrefecer. Ele falou das muitas cartas que eu tenho recebido de pessoas aqui dos Estados Unidos, desejosas para saber como anda o processo de canonização. Ele também falou das cartas que ele recebe na Inglaterra. “Incluindo esta”, ele disse, entregando uma carta ao bispo. Era uma carta do embaixador Miguel Angel Espeche Gil, que é presidente da Sociedade Chesterton da Argentina. O embaixador também queria saber o que poderia ser feito para encaminhar a causa de canonização de Chesterton. Ele descreveu a grande devoção a Chesterton na Argentina, e disse que lá também, Chesterton tem convertido muitos. O embaixador terminava dizendo que o cardeal arcebispo de Buenos Aires tinha aprovado a oração (para uso em devoção privada) que pedia intercessão de Chesterton. A carta tinha data de 10 de março de 2013. Três dias depois, este cardeal, Jorge Bergoglio, se tornou o Papa Francisco.
O bispo Peter Doyle leu a palavra “Bergoglio” e olhou para Martin. O bispo é um homem bom e humilde, um padre paroquial que de repente poucos anos antes tinha assumido a cadeira de bispo. As responsabilidades dele são já enormes em um País que tem estado em guerra com a Igreja Católica por 500 anos. Ele não estava obviamente procurando uma tarefa gigantesca para seus ombros. Eu tenho certeza que ele respirou fundo para dizer as palavras cautelosas, mas muito importantes, que disse a Martin . Martin me disse o que o bispo Doyle tinha dito e nós não falamos disso para ninguém por algumas semanas.
Então, no dia 1 de agosto deste ano, durante a Conferência Nacional Chesterton realizada no Assumption College em Worcester, Massachusetts, na minha fala de abertura, eu disse como nós precisávamos de certo tipo de santo para nos guiar hoje, alguém com a alma mística de São Francisco, com a mente de São Tomás de Aquino, com a visão social do Papa Leão XIII, alguém entre os leigos, que é devoto da Sagrada Família porque conhece sua profissão como São José, exalta a dignidade da mulher como a Virgem Maria, e entende que toda criança é um dom divino como o Menino Jesus; alguém que simboliza a alegria católica frente à nova era das trevas. E eu disse que eu acredito que nós temos tal santo. Então, eu fiz o anúncio: que Martin Thompson tinha encontrado o bispo Peter Doyle e disse que o bispo “tinha dado permissão para relatar que o Bispo de Northampton é simpático aos nossos desejos e está procurando um clérigo adequado para começar uma investigação sobre a potencial abertura do processo de canonização de Chesterton”.
Mais de duzentas pessoas pularam e começaram a gritar de alegria. Muitos choraram de alegria. Eu admito que tive muita dificuldade para controlar minhas emoções. Nós temos esperado por isto há muito tempo. É apenas o primeiro passo. Mas é o primeiro passo.