A Sociedade Chesterton Brasil tem a grande satisfação de trazer ao público brasileiro uma entrevista inédita com uma das maiores autoridades no pensamento de Chesterton. Entrevistamos o Padre Ian Boyd, fundador e presidente do The G. K. Chesterton Institute for Faith & Culture. As perguntas desta entrevista contaram, também, com a colaboração da Sociedade Chesterton Portugal. A tradução do inglês foi realizada por Wendy A. Carvalho.

Padre Ian Boyd é padre da Congregação de Santo Basil. Um estudioso de Chesterton reconhecido internacionalmente, ele é autor de The Novels of G. K. Chesterton (Londres, 1975). Por muitos anos ele foi professor de Inglês na Faculdade de Santo Thomas More, Universidade de Saskatchewan. Atualmente é membro do Departamento de Inglês na Universidade Seton Hall em South Orange, Nova Jersey. O padre Boyd também faz conferências sobre “Assuntos Sacros na Literatura Moderna.” Dentre os autores cristãos sobre os quais ele explica estão T. S. Eliot, Graham Greene, C. S. Lewis, Falnnery O’Connor, Piers Paul Read, Muriel Spark e Evelyn Waugh. Na literatura do séc. XIX, é interessado na obra de autores como Charles Dickens, Anthony Trollope e Nathaniel Hawthorne. O Pe. Boyd é fundador e editor de The Chesterton Review e presidenta do G. K. Chesterton Institute for Faith & Culture, situado na Universidade Seton Hall.
1. Padre Boyd o senhor é considerado uma referência internacional com relação ao pensamento e à obra de G. K. Chesterton. Como tu descobriste este grande escritor?
Meu interesse em Chesterton vem do meu pai, que era advogado no Oeste do Canada, que amava a escrita de Chesterton e que publicou no jornal de Chesterton, o G. K.’s Weekly – as cópias que estão no escritório onde estou escrevendo te responde suas questões.
2. Na sua opinião, qual é o melhor livro de Chesterton?
Me pergunto se há um “melhor” livro de Chesterton. Seu melhor escrito é disperso como ouro em pó ao longo dos cento e tantos livros que ele publicou e em seus incontáveis escritos soltos. Além disso, em certo sentido o todo de Chesterton está contido em cada parte do que ele produziu. Ele era um homem cuja visão de mundo era uma – uma discreta filosofia que deu a ele uma nova visão a respeito de tudo o que lhe chamou a atenção.
3. O que faz de Chesterton um escritor único? Qual a sua contribuição mais importante?
A singularidade de Chesterton vem de sua sabedoria. Como A. J. Maycock assinala, tal sabedoria é um dom especial, permitindo àquele que a possui falar como se tivesse a verdade, não como quem raciocina laboriosamente em direção a ela. Chesterton é mais que um escritor religioso, e seus leitores vão a ele por reconhecerem a sabedoria do que ele tem a dizer.
4. Na sua opinião, por que as universidade ligadas à Igreja Católica não mencionam Chesterton em seus programas de filosofia e de literatura?
A secularização da educação superior em todo o mundo ocidental explica a ausência de Chesterton nos programas universitários de filosofia e literatura. Contudo, isto pode ser mudado. Um artigo sobre Chesterton no London Times Literary Supplement descreveu-o simplesmente como “um dos nossos grandes escritores.”
5. Como foi concebido o The G. K. Chesterton Institute for Faith & Culture?
O Chesterton Institute e seu jornal The Chesterton Review foram fundados em 1974. Houve uma conferência naquele ano em Spode House, uma Dominican Retreat House in England, para celebrar o centenário do nascimento de Chesterton. Naquele ocasião, eu tirava um ano de licença (Ano Sabático) em Oxford, preparando um livro sobre os romances de Chesterton. Eu assisti a conferência da Spode House, e enquanto estive lá, sugeri para algumas pessoas que lá estavam de que havia necessidade de um jornal chestertoniano. Quando retornei à faculdade St. Thomas More, no oeste do Canadá, onde eu lecionava, entrei em contato com um número de outros chestertonianos e, com a ajuda de minha colega, a irmã Mary Loyola, e da faculdade, e dos padres da minha comunidade religiosa The Congregation of St. Basil, a primeira edição da Review foi lançada no outono deste ano.
6. O senhor visitou o Brasil para participar de um evento organizado pelo CIEEP em 2009. Qual foi a sua impressão deste evento e do nosso país? Desde aquele evento, o senhor pensa que Chesterton se tornou mais famoso no Brasil?
A conferência no Brasil foi apenas uma de uma série de conferências sobre Chesterton em todo o mundo as quais todo ano atendemos eu, professor Dermot Quinn e Gloria Grabois. Os palestrantes nestas conferências incluem especialistas em Chesterton dos países em que as conferências são feitas. Como resultado de nossa conferência no Brasil é que agora publicamos uma edição de The Chesterton Review em português, todo ano.
7. A terceira edição de The Chesterton Review em português foi publicada este ano. Quais são os novos planos para The Chesterton Review? Qual a sua impressão a respeito do modo como os brasileiros vêem o periódico? Em 2014, The Chesterton Review celebra seu quadragésimo aniversário. Qual será a causa deste sucesso?
Penso o Brasil como o maior país católico no mundo. Seria perfeitamente compreensível se o Brasil se tornasse um país interessado num dos mais importantes escritores católicos do século XX e em um jornal devotado a estudar a obra do mesmo, se nosso jornal teve algum sucesso é por causa que se trata de Chesterton em si, pois a influência de um jornal depende da qualidade do que nele se encontra. E estou um tanto orgulhoso da qualidade dos escritos de The Chesterton Review nos últimos quarenta anos. O escritor inglês do século XIX, Coleridge, disse uma vez que um bom texto forma o próprio gosto pelo qual é apreciado. Eu gostaria de pensar que isto pode ser verdade a respeito da nossa revista.
8. Sabemos que o bispo inglês Peter John Haworth autorizou (indicando um padre para tal tarefa) o início da investigação diocesana para abrir o processo de beatificação de Chesterton. Como o senhor encara estas notícias? O senhor acredita que Chesterton pode ser reconhecido como um santo, no futuro?
Estou realmente encantado pelo fato de a santidade de Chesterton estar sendo reconhecida de modo oficial. No entanto, tenho algumas restrições quanto ao esforço de reconhece-lo um santo. Ele sempre foi amado por Cristãos Protestantes, e certamente por pessoas que não possuem uma crença religiosa. Temo que dando a ele o título de “Santo Gilberto” podemos limitar este encanto.
Muitos jovens descobriram o pensamento e a obra de Chesterton recentemente. Que conselhos tu darias àqueles que querem se aprofundar no estudo deles?
Jovens amam Chesterton pela sua alegria. Como disse Franz Kafka, “ele é tão feliz que posso facilmente acreditar que encontrou Deus.” É difícil saber que livro indicar para leitores jovens. Talvez os contos do Padre Brown seriam uma boa indicação. Tais contos foram traduzidos para muitas línguas e nunca estiveram fora de publicação desde que foram publicados pela primeira vez em 1911. Permanecem sendo a mais conhecida obra de Chesterton. Ideias populares, Chesterton insiste, estão sempre certas. Então o Pe. Brown, o amável símbolo de Chesterton para a Igreja, é a melhor introdução à sua obra. Estes contos encantam os leitores comuns cujo julgamento Chesterton achava ser raramente errado.